segunda-feira, 16 de março de 2009

reticências

Era uma vez um menino que já havia sido Dom Juan e Romeu em suas turbulentas relações.
Era uma vez uma menina que já havia sido Amélia, Julieta...
Ambos amaram, foram amados, foram felizes e infelizes, riram e choraram, mas chegou um momento que já estavam anestesiados de uma felicidade tão inconstante, cansados de tantos momentos em que a alegria e a tristeza brigavam entre si para predominar a rotina.
Foi num dia de alegria que eles se olharam a primeira vez, e gostaram do que viram. E foi assim que o destino fez suas artimanhas para cruzar a vida desses dois.
“Como me aproximar de tão doce jovem?” – pensava o garoto – “Esse sorriso lindo que clareia o dia, já não preciso mais ser conquistador barato, talvez, só talvez, eu tenha achado meu porto seguro!”
“Porque ele me despertou tanto interesse?” – indagava-se a garota – “Eu nem o conheço. Do livro que é sua vida, já ouvi diversas sínteses, mas no fundo, só conheço a capa.”
De repente, com a convivência, os dias iam passando de forma estranha, cada dia começou a equivaler à um mês, e eles foram se conhecendo e aproximando. Dia a dia o garoto ia mostrando-se a garota, página a página, ela ia conhecendo-o mais e mais, ia lendo sua história sem querer parar, sem poder parar, aquilo tão cedo teria um fim. Quanto mais ela o conhecia, mais ela queria conhecer.
Foi numa volta violenta que a Terra deu, que a então Julieta caiu nos braços de Romeu, e quando ele lançou-a seu olhar, não um olhar vago, mas um olhar que continha um misto de ternura e desejo, ela rendeu-se à um beijo.
Com o passar dos meses, o destino, a rotina iam sempre os aproximando, das formas mais inesperadas, sutis e especiais. Uma conversa na praça já não era sinônimo de tédio e um passeio no meio da semana já não era um luxo. Uma risada valeria a alegria de um dia inteiro, e um beijo pagaria isso.
Quando tudo não poderia ficar melhor, Romeu disse a Julieta que teria que partir, numa longa viagem, tristemente pediu que ela não o esperasse, mas que guardasse com carinho todos os longos e lindos momentos que compartilharam. Julieta não chorou, não questionou, apenas sorriu e entendeu. Tudo o que passara desde que o conhecera era suficiente para combater a saudade, mas ela não tinha certeza se controlaria a paixão que crescia, dia após dia.
Romeu deixara para Julieta um livro, e pediu que ela só o abrisse quando ele mandasse noticias à ela.
Após a partida de Romeu, Julieta retomou sua vida, e quando a tristeza de qualquer natureza a abalava, ela retomava suas memórias de Romeu, e sorria. Telepaticamente eles se falavam, se sentiam e inexplicavelmente, acabavam com a saudade. E já que pessoalmente não mais havia contato, foi também telepaticamente que viraram amigos.
Quando Julieta já havia conseguido encubar sua paixão por Romeu, quando ela resolveu deixá-lo na caixa de lembranças boas que havia em sua mente, quando ela achava que já havia conhecido o fim do livro de Romeu, ela recebeu um telegrama com os dizeres: “Me espera amor, que eu estou chegando...”
Julieta correu a seu quarto, remexeu suas coisas e encontrou o livro que Romeu deixou, intacto. Ela cumprira a promessa de não abri-lo antes da hora. Ao abrir o livro, ela não entendeu, estava em branco, totalmente em branco, exceto, a última página. E seus olhos encheram-se de lágrimas de felicidade e surpresa quando ela leu o que ele havia escrito: “...nossa história nunca irá terminar, estou voltando, pra gente escrevê-la nessas páginas em branco, juntos, perfeitamente juntos. E se uma vez disseram que o amor sempre volta, deve ser pro isso que voltarei para você!”